OS REVOLUCIONÁRIOS DE FÁBRICA: Parte 4
A igualdade é um valor absoluto?
A actual obsessão pela igualdade produz
neuroses que se manifestam em diversas outras obsessões inconscientes: obsessão
pela hierarquia, obsessão pela diferença, obsessão pela superioridade.
Podemos facilmente observar nas atitudes
daqueles que se consideram paladinos da igualdade uma pretensão de superioridade
quando procuram impor a sua narrativa aos que não se vergam a ela, e esta é uma
atitude que, se não admite, pelo menos pressupõe um sentido de hierarquia.
Na realidade, a igualdade é um ideal que serve
como condimento, não como prato principal. Na cadeia de relações e
dependências, antes da igualdade está a hierarquia, e entre elas medeia o
princípio da proporção; por isso, a igualdade deve manter-se circunscrita aos
seus limites e à sua base real, pois a sua abstração pode transformá-la em
obsessão ou compulsão, e é esse movimento que dá origem às neuroses.
Para começar, devemos deduzir da observação da realidade que não existe igualdade no sentido absoluto, isto é, os homens não nascem iguais nem em aparência, nem em posição social, nem nos laços familiares, no lugar, nas capacidades, na saúde, na beleza, nas tendências, nos talentos, nem nas personalidades. Porém, nascemos iguais no sentido da espécie. Todos temos o mesmo círculo de latência (1) que circunscreve a espécie, isto é, todos pensamos, sentimos, agimos, queremos, contemplamos, amamos, enfim, em tudo aquilo que é próprio do homem, ao menos em potência, somos iguais.
Há coisas que temos em comum, às quais não nos
é possível escolher que seja de outro modo, por exemplo, todos nós nascemos de
uma mulher, e todos nascemos nus. Quando morremos, fazemos a passagem sozinhos,
ou pelo menos, sem companhia humana. O momento da morte restringe-se à
consciência individual, tal como os pensamentos, os sentimentos, e todas as
coisas impossíveis de partilhar directamente com outras pessoas. Esta é a nossa
condição: iguais nuns aspectos, perfeitamente distintos em outros.
Aqueles que procuram impor um modelo de
sociedade baseado numa igualdade impossível, buscam operar uma mudança
artificial que, para ser bem sucedida, terá de mutilar a natureza humana. Terá
também de mutilar muitas naturezas pessoais, restringir muitas vocações, e
limitar muitos potenciais génios.
Se há uma vontade de operar uma mudança na
sociedade, pressupõe-se que alguém tem de ser testemunha dessa mudança. Neste
caso, e para os efeitos da narrativa igualitária, a testemunha seria um
observador inventado, abstracto, impessoal, numa palavra, a própria sociedade.
Mas a sociedade não tem olhos para ver, nem juízo para ajuizar. As testemunhas
reais seriam cada um de nós. Deparamo-nos então com uma limitação, pois cada um
de nós é demasiado pequeno para testemunhar todos os seres humanos. A única
testemunha da humanidade como um todo é o todo omnisciente, e se é testemunha
tem de ser uma pessoa. É o mesmo a quem chamamos Deus.
Acontece que, se somos iguais de alguma forma,
somo-lo por causa Desse que nos fez assim. Por mais tautológica que esta
dedução pareça, em determinadas coisas, isto é, nas coisas estruturais da nossa
realidade, não podemos dizer outra coisa que não “é assim porque é assim que
é”.
Nunca seremos iguais perante outros olhos que
não os de Deus. E é um mistério que aos seus olhos sejamos tanto iguais como
únicos e distintos. E nunca seremos absolutamente iguais, mas sim em valor,
perante Ele, e nunca perante a sociedade.
A crescente obsessão pela igualdade, por se
tratar, na prática, da defesa de um conceito abstrato e relativo, manifesta-se
de uma maneira bem intrigante, e até aparentemente contraditória, na sociedade
atual. Observamos que muitos daqueles que militam por uma suposta igualdade
tendem a apresentar-se de forma cada vez mais diferenciada. A obsessão pela
igualdade vem junto com uma obsessão pela diferenciação. Daí vermos muitos
jovens que se apresentam com uma estética cada vez mais extravagante,
contra-canónica, chocante, e no fundo, individualista. Junto com a sua obsessão
pela igualdade veio a exigência de serem aceites na sua individualidade. Porém,
essa pretensa individualidade não se ancora no ser real, essencial, substancial
da pessoa, mas apenas na aparência, na matéria. Não é o verdadeiro indivíduo
que ali se manifesta, mas uma simulação de originalidade.
Isto acontece, parece, porque estes indivíduos
pretendem obter igualdade na sua individualidade, e esta é a boa raiz de uma
perversa e desviante loucura. Ao exigir que a sociedade os veja a todos como
iguais em valor, apesar das suas individualidades, colocam-se numa posição de
palrador sem audiência, pelos motivos que já explicamos acima. O único capaz de
nos dar a consciência do nosso valor é o observador omnisciente, Aquele que
gerou cada individualidade, cada “pessoalidade”, à sua própria imagem.
Assim, o ideal da igualdade deve manter-se
dentro do seu limite, que é o espírito humano. Serve como referência para nos
olharmos a nós próprios, mas de nenhum modo ele é sinónimo de justiça. Pelo
contrário, aquilo que é justo é aquilo que é apropriado, adequado, certo, e é,
portanto, relativo especificamente a cada contexto. A justiça é um ato profundamente
complexo e exige o conhecimento de toda a conjuntura da realidade, e sendo de
tal modo, a nossa só pode ser imperfeita. A justiça só pode ser perfeita quando
aplicada por Aquele que tudo vê e tudo sabe, pois só com o conhecimento da
verdade absoluta é possível o julgamento verdadeiro.
(1) “Todas as percepções sensíveis são
acompanhadas de um círculo de latência que já nos dá uma ideia das
possibilidades de acção e transformação dos entes, e isto não é acrescentado à
percepção por raciocínio.” Curso Online de Filosofia Olavo de Carvalho,
Exercícios e Indicações Práticas, Mário Chainho e Juliana Camargo Rodrigues,
2012
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