ORDEM ILEGAL NÃO SE CUMPRE!
Para além das questões ideológicas, essa lição precisa ser lembrada, de tempos em tempos...
(...)
A decisão é tua! Deves vir diretamente a Brasília, correr o risco e pagar para
ver. Vem. Toma um dos teus filhos nos braços. Desce sem revólver na cintura,
como um homem civilizado. Vem como para um país culto e politizado como é o
Brasil e não como se viesse para uma republiqueta, onde dominem os caudilhos,
as oligarquias que se consideram todo-poderosas. (...) –
Leonel Brizola, dos porões do Palácio Piratini em Porto Alegre, sob ameaça de
bombardeio aéreo em 1961, narrando ao povo o que disse por telefone a João
Goulart, em Paris.
Em agosto de 1961, Leonel
Brizola - então governador do Rio Grande do Sul -, requisitou a Rádio Guaíba e
a instalou nos porões do Palácio Piratini. De lá, ele transmitiu a Campanha da
Legalidade, convocando os brasileiros de todas as partes a se unirem em defesa
da Constituição Federal e da posse do vice-presidente João Goulart.
O governador daquele povo com
fama de bravo, no extremo sul do Brasil, foi mais longe: conclamou os demais
latino-americanos a se apoiarem mutuamente pela liberdade, pela legalidade e
para protegerem a soberania das suas nações. A Rede da Legalidade estava
formada: milhares de estações radiofônicas atentas, em todo o continente,
retransmitindo o apelo gaúcho.
Aderiram milhares de jornalistas, professores, militares, gente de vários lugares. As testemunhas contam que quando Brizola começou a discursar, havia aproximadamente 5 mil pessoas diante do Palácio. Apenas uma hora depois, havia mais de 50 mil pessoas aglomeradas em frente ao Piratini, em demonstração de apoio à Legalidade, após saberem do risco de bombardeio.
(...) diz o general Orlando Geisel, da ordem do marechal Odílio Denys, ao III Exército: "(...) O III Exército deve agir com a máxima urgência e presteza. Faça convergir contra Porto Alegre toda a tropa do Rio Grande do Sul que julgar conveniente. A Aeronáutica deve realizar o bombardeio, se for necessário. Está a caminho do Rio Grande uma força-tarefa da Marinha de Guerra e mande dizer qual a reforço de que precisa. (...) – Leonel Brizola, dos porões do Palácio Piratini em Porto Alegre, sob ameaça de bombardeio aéreo, 1961, relatando ao povo o que acabara de saber e confirmar, por mais de uma centena de telefonemas. Temendo a união entre as lideranças gaúchas civis e militares, o governo central decretou Ordem de Bombardeio ao Palácio Piratini, sede do governo sul-rio-grandense, no coração de Porto Alegre.
Havia uma grande mobilização
local. O Regimento Bento Gonçalves, da Brigada Militar, montou barricadas na
Praça da Matriz e metralhadoras antiaéreas foram instaladas no terraço do
Palácio. Voluntários armados surgiram de várias partes, convocando a cidadania
ao alistamento da iminente guerra civil, tão somente 116 anos após o fim da
Guerra dos Farrapos.
Corajosamente, os combatentes
da Base Aérea de Canoas, apesar de incomunicáveis, sob ameaça e desarmados,
se recusaram a cumprir a Ordem de Bombardeio, mantendo-se fiéis a Porto Alegre
a à Constituição Federal, evitando que o sangue brasileiro fosse derramado.
Sabotaram o carregamento dos caças, esvaziaram pneus, asseguraram a
inacessibilidade ao material necessário para a decolagem.
Na capital, de um lado a outro do Morro dos Quarteis, havia uma linha de defesa de metralhadoras, pois a maioria dos aquartelados defendia o respeito à Constituição. Diante desse cenário, o general Machado Lopes, comandante do III Exército, percebeu que não teria o menor apoio da tropa e aderiu à Legalidade.
A bordo do contratorpedeiro
Ajuricaba, destinado a bloquear o porto de Rio Grande contra os legalistas, os
oficiais da Marinha foram aprisionados por seus subordinados, em um motim
histórico.
Aqueles insurgentes lutaram
pela legalidade, defenderam a Constituição Federal com as suas próprias vidas,
impediram a morte de inocentes e mostraram que ordem ilegal não se cumpre.
Essa lição que precisa ser lembrada, de tempos em tempos.
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