RETRATOS QUEBRADOS... FACES REVELADAS...
Certos
defeitos sanados com o tempo
Eram
o melhor que havia em você
Oswaldo
Montenegro
“Seu rosto em pedaços misturado com o que não
sobrou do que eu sentia[1]”... Seu rosto?!
Não! SEUS rostos: muitos porta-retratos quebrados. Muitos sentimentos que mudaram...
decepção... Como o Cavaleiro Inexistente
do Ítalo, aqueles retratos não existiam de verdade, não correspondiam à
realidade. As rachaduras e rasgos já
estavam lá — como eu não via? Talvez a
perda do olfato me tenha, só há pouco, aguçado a visão. Sei lá.
Vejam o rosto dele: preto e branco, sorriso aberto, olhar firme. Há pouco me trazia boas lembranças. Você foi colorizado de forma estranha – você não foi hábil com os lápis — e exibe alguém em busca de aceitação acadêmica, em busca de não destoar da manada e “certas canções que você não cantava, hoje assovia pra sobreviver[2]”. Pior: você as berra com o entusiasmo de alguém que sempre as cantara... Pra que nem desconfiem do seu passado...
E o sarcasmo dela nesta outra?! Uma risadinha irônica de quem acabara de debochar
de uma coisa absurda que ouvira. Lembro
até hoje do comentário que você fizera. Eu
me cortei ao catar os cacos e a dor parece me impedir de ironizar você dizendo
aquele mesmo absurdo que repudiava. E só
porque que te chamaram pra entrar na
ciranda: não na principal, que é de pedra[3], só pra
eles, mas naquela dos figurantes que fazem qualquer coisa só pra ficar perto
dos atores.
Já que falamos de atores, está bem rasgada esta
foto deste conhecido. Mas dá pra ver a
convicção em seus olhos. Qualquer um te
acharia um cara resoluto. Eu
achei... Mas você foi mais fácil, durou
menos tempo meu engano. Mas se antes eu
achei que era pela liturgia da política, engolindo um sapo ou outro por ideais,
depois eu vi que sopa de sapo poderia ser seu prato favorito, bem como um
ridículo churrasco de melancia na segunda e que você até proporia que se
comesse tofu com boldo na Terça. Você
degustaria, elogiando, qualquer coisa, lambendo os beiços, numa atuação digna
de Oscar (dos tempos de Oscar politicamente correto), se isso te pudesse fazer
aparecer mais, ganhar mais títulos e cargos.
Pior, você até ia querer obrigar outros a comer também.
Ah, quanta personalidade exala este outro
rosto, agora esverdeado pela luz forte da janela. Cheguei a achar que seria talhado para
liderar em algum momento. Mas, que
tristeza, vi que era um daqueles que o João Guilherme descreveu certa vez: um
chuchu – que tem gosto de carne ou de camarão, dependendo de quem manda no
guisado...
Destes outros, caídos sob a mesa, eu tenho mais pena. Tão autossuficientes na imagem, tão senhores
de si. Mas trocaram todos os seus
valores por causa do novo emprego do
filho ou pra ganhar pontos com a namorada nova...
Lembro do dia desta outra foto. Você fez questão de tirar ao ar livre com um
pássaro voando ao fundo. Só falava em
liberdade, até pra bandidos. Tinha
horror de tempos em que havia censura.
Hoje escreve inventando argumentos para justificá-la, fala de razões
extraordinárias para se passar por cima de cláusulas pétreas; mas, temos que
ser justos, você não mudou em tudo: continua defendendo a liberdade, mas só pra
bandidos. Pra quem não reza pela sua
cartilha prega desumanização, prisão, cancelamento, silenciamento...
Ah, esta sala está uma bagunça...
Ainda há
muitos pedaços de vidro, madeira e de rostos pelo chão.
Ainda há muitos móveis a empurrar para
achá-los para poder ver suas verdadeiras faces.
Estou desanimado, vai dar muito trabalho, vou me ferir muito nos cacos,
vou manchar ainda o chão com muitas gotas de sangue e, ferido, derramar muitas
lágrimas porque os cortes e a Verdade doem...
“Ela pensa que vai ser protagonista
e acaba sendo cunhada de um amigo
de um
cachorro da Glória Pires na novela
Oswaldo Montenegro
Crux Sacra Sit
Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas
(Oração
de São Bento cuja proteção eu suplico)
Que já errou muito, mas que, ao menos, continua não cantando aquelas
-
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