DOAR-SE PARA SALVAR A SI MESMO
Acabei de assistir ao filme
ARREMESSANDO ALTO, na Netflix. Estrelado por um Adam Sandler que,
definitivamente, abandonou a veia histriônica – o que lhe caiu muito bem, diga-se
de passagem - esse drama mostra a trajetória de superação de um ex-jogador
fracassado da NBA , Stanley Sugerman (Sandler), que busca tornar-se técnico, abandonando,
assim a carreira de olheiro e as desgastantes viagens, que deixam-no longe da
esposa Teresa ( Queen Latifah) e da filha.
Nessa
saga de viagens e peregrinações, em que segue atrás de jogadores promissores, empanturrando-se
de fast food em hotéis aleatórios e praticando a autocomiseração, Stanley
depara-se, inesperadamente, na Espanha, com um pedreiro, jogador de basquete nas horas vagas, chamado Bo Cruz (vivido pelo
astro do Utah Jazz, Juancho Hernangómez).
Bo
é um talento, mas boicota-se o tempo todo. Não acredita em seu potencial,
carrega muitas mágoas do pai, não controla a própria agressividade, nem seus
pensamentos. Cabe a Stanley, que rompe com seu empregador, o time Philadelphia
76ers, treiná-lo, atuando como agente independente, indo contra tudo e todos.
Stanley
está quebrado, e precisa, além de treinar Bo, sustentá-lo nos EUA, por quase
dois meses, a fim de que concorra nas eliminatórias da NBA. Superando as
próprias frustrações e apontando as fraquezas e limitações de Bo, num esforço
de doação e entrega pessoal intensas, Stanley vai curando o jovem, mas,
sobretudo, a si mesmo.
Este,
portanto, não é um artigo sobre coaching ou capacidade de superação, tão
somente. É um artigo sobre SERVIR. Porque, ao nos despirmos de tudo, para
servir a alguém, reencontramo-nos com a nossa essência, e resgatamos o que
encontrava-se, muitas vezes, enterrado dentro de nós mesmos, e que não mais
contactávamos. Vou explicar:
Stanley
é ressentido, sente-se fracassado por não ter prosseguido com sua carreira,
vive sem grana e nem sempre enxerga a vida com gratidão e fé. Ao fazer por Bo o
que não foi capaz de fazer por si mesmo, renova-se em esperança e amor, e vê um
milagre acontecendo em sua própria vida.
Bo,
ao receber, por via transversa, de Stanley, um amor que não obteve do próprio
pai, e o amparo que a vida não lhe forneceu, abre-se, cresce, renova sua fé em
si mesmo e nas pessoas, e consegue entregar o seu melhor.
Servir
é isso. Abrir-se para o outro, sem esperar recompensa. Imbuir-se da tarefa, sem
a garantia de gratificação. Sobretudo, servir é perceber-se como o maior
beneficiário dessa entrega, por poder contactar o que há de mais humano em si.
Porque, ao nos fecharmos, para pessoas, situações e sentimentos, vamos nos
dessensibilizando, e isso tem um preço.
Quando
não conseguimos mais olhar as pessoas e acontecimentos com emoção, deixamos de
nos movimentar, no mundo, do modo para o qual fomos criados: somos os únicos
seres vivos capazes de sentir AMOR,
fomos criados para AMAR.
Em
decorrência da incapacidade generalizada das pessoas, de sentirem e exercitarem
o AMOR, o mundo marcha, cada vez mais, para o imediatismo, os transtornos
psicológico-psiquiátricos, os distúrbios comportamentais (os quais são, muitas
das vezes, identificados como vícios, adicções e compulsões), o ódio, a
intolerância, o egoísmo, a tirania.
Ao
conseguirmos essa conexão com algo ou alguém, que faz com que doemo-nos a uma
tarefa, uma pessoa, uma comunidade, uma ideia, um sonho, ou o que quer que
seja, nos percebemos vivos e honrando a nossa missão primeira, nessa vida:
servir. E é esse serviço que nos permite sentirmos AMOR.
Imaginem
um bebezinho. Ele chora, acorda a noite toda, não deixando ninguém descansar.
Sente fome, sede, frio, precisa ser cuidado. Para que ele sobreviva, alguém
precisa servi-lo. Doar-se para ele. Toda pessoa adulta viva, recebeu isso de
alguém, ou aqui não estaria, hoje. Quem doou-lhe tudo, com certeza, tornou-se
alguém melhor.
Do
mesmo modo um casal, quando vivencia uma relação de amor, ajudando-se
mutuamente, doando-se diariamente, desejando elevar o outro até o céu e fazê-lo
feliz, vê um milagre materializar-se, debaixo dos seus olhos, nessa convivência
tão íntima e revigorante. Esse sentimento de pertencimento, de gratidão, que
passam a sentir, advém do recebimento e da entrega real, daquilo para o que
foram gerados para fazer, no mundo: AMAREM E SEREM AMADOS.
Stanley,
ao despir-se de seus problemas e dilemas existenciais para ajudar Bo, contacta
um amor paterno pelo jovem, que também contacta esse amor, vindo de um homem
estranho, que acreditou nele. Devolve-lhe, então, o mesmo amor, sob a forma de
dedicação aos treinos, amadurecimento pessoal, força de vontade.
Histórias de superação envolvem AMOR e DOAÇÃO. Não somente força de vontade, “pensamento positivo” e autoestima, como os livros de autoajuda gostam de cravar. Só superamos questões internas e situações, de forma definitiva e não reincidente, quando amamos ou nos sentimos amados, quando doamos ou recebemos AMOR. Isso nos inunda de motivação e gratidão, e nos faz avançar.
Logo,
Adam Sandler, intuitiva ou racionalmente, acabou produzindo um lindo filme de
AMOR, no qual deixa-nos antever, através da tela, o que de mais humano há, em
nós mesmos. Não deixe de assistir e emocionar-se, questionando-se profundamente
sobre isso: VOCÊ É CAPAZ DE SERVIR A ALGUÉM? Esse é o caminho.
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