NÃO PODEMOS ESQUECER
o que a espiral do silêncio pode fazer com a verdade.
Essa semana, assisti a um filme magnífico, que me impactou
profundamente. Trata-se de uma produção alemã, com o título “Labirinto de
Mentiras”, em português, ambientada em Frankfurt, e está disponível na Amazon
Prime Video.
A história é
ambientada na Alemanha de 1958, em seu pós-guerra, sendo um país que se
reerguia dos traumas da década anterior. Ali, um jovem Promotor de Justiça, em
início de carreira, deflagra uma investigação para apurar crimes de guerra,
praticados por cidadãos alemães.
Tais pessoas, tipos comuns de
Frankfurt, haviam sido recrutadas, para servirem em campos de concentração
nazistas, tendo tomado parte em inúmeros assassinatos e torturas, supostamente
em defesa da raça ariana. Findo o conflito, no qual a Alemanha nazista foi
derrotada, essas pessoas voltaram ao seio da sociedade, como se nada houvesse
acontecido, como se delitos hediondos não houvessem sido praticados.
O filme revela, de modo magistral,
como crimes de guerra, praticados pelos alemães, em face dos judeus, foram
sistematicamente ocultados das gerações seguintes (que, inclusive, ouviam dizer
que os campos de concentração eram uma invenção dos Aliados).
É um filme triste e inspirador, ao
mesmo tempo. Mostra, por um lado, que alguns erros podem ser corrigidos, ainda
que tardiamente, fazendo-se justiça. Por outro, revela do que o ser humano é
capaz, em situações extremas, sob o comando de um governante sociopata, ao qual
não ousavam questionar.
A história é baseada em fatos reais, e
demonstra, sobretudo, o que a espiral do silêncio pode fazer com a verdade. Na
medida em que o que é verdadeiro se torna oculto, ou até mesmo proibido,
criando-se uma nova versão para fatos ocorridos, a mentira transforma-se na
versão oficial, sendo reiteradamente repetida, até que se recriem os fatos, da
forma desejada.
Após 1945, professores, educadores e
formadores de opinião, incluída aí a imprensa, simplesmente negaram, às novas
gerações, o direito de saber o que de fato ocorrera durante a guerra, e qual
havia sido a participação da Alemanha no conflito.
Aqueles que ainda eram crianças, nos
idos de 1940, como o protagonista do filme, cresceram sem nada saber sobre o
holocausto, tampouco sobre a conivência ou omissão dos alemães, relativamente
ao show de horrores protagonizado por Hitler e sua SS. A Alemanha desejava, ao
não comentar a História, apagar essa mancha de seu passado.
Eric Voegelin já dizia isso, em seu
livro Hitler e os Alemães, denunciando o silêncio ensurdecedor que ecoou por
gerações, em terras germânicas. Somente com a condenação de mais de cem
alemães, por crimes praticados no campo de Auschwitz, contra judeus, a verdade
finalmente veio à tona, e por mais embaraçosa que fosse, era essencial, até
para que tais horrores jamais se repetissem.
Um corajoso grupo de colegas, formado
por promotores de justiça, procuradores federais, juízes de direito, e
procuradores de justiça, acaba de lançar um livro, denominado O Inquérito do
Fim do Mundo. Encabeçado por Claudia Morais Piovesan, o time denuncia as
irregularidades praticadas pelo STF, no já conhecido “inquérito das fake news”.
O intuito do livro é registrar, para
a posteridade, as ilegalidades e arbitrariedades que têm sido perpetradas pela
Suprema Corte, diante dos olhos da população, nesses tempos sombrios que
atravessamos, aqui no Brasil. Recomendo fortemente a leitura.
Não podemos esquecer. Lutamos muito
para chegar até aqui, e estamos prestes a viver sob censura e com cerceamento
de liberdades. É preciso que o presente seja registrado, para que haja
conhecimento deste no futuro.
Assim como a Alemanha precisou olhar, corajosamente, para suas atrocidades, apesar da cortina de silêncio que havia fabricado, o Brasil precisa enxergar o que está acontecendo, se reinventar e sair dessa crise, com o aprendizado de algumas lições, a fim de que não se repitam os episódios lamentáveis, que temos testemunhado por aqui.
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