PLATÃO E A POLÍTICA
Aos que perderam sua honra no intrincado jogo da política, nada. Aos sábios e éticos, tudo.
Na noite da
última sexta feira, assisti ao filme Os Últimos Cavaleiros, na Netflix. O
título nos remete à honra, à coragem e aos valores que existiam na sociedade
medieval, os quais, lamentavelmente, estão em extinção nos dias de hoje.
A ação se
desenrola em um reino fictício, no qual um ministro corrupto institui a troca
de favores, para que se possa viver e trabalhar em paz, naquelas paragens. Os
senhores feudais que não aceitassem pagar-lhe suborno e dever-lhe honrarias,
eram perseguidos, expulsos de seus feudos e mortos, juntamente com sua família,
cuja dinastia era, então, riscada do mapa..
Em
determinada ocasião, um desses nobres resolve se rebelar e livrar do jugo de
tal ministro, recusando-se a participar desse círculo vicioso de corrupção, que
é conhecido e tolerado pelo rei. O ator que desempenha o papel desse senhor
feudal é Morgan Freeman (virou modinha atores negros representando nobres, em
filmes e séries exibidos pela Netflix. É a ditadura do “politicamente correto”),
que profere a seguinte frase:
“Quando um
homem desses exige um suborno em público, sem medo de sofrer recurso, estamos
perto de tempos perigosos”. E a trama avança, com uma série de tragédias, lutas
e mortes decorrentes dessa negativa.
Tudo isso me lembrou Platão e seus
ensinamentos. Discípulo de Sócrates e um de seus maiores disseminadores, Platão
escreveu A República, as Leis e tantos outros tratados, nos quais dissertou
sobre a justiça, bem como sobre o Estado, a política e
seus males.
De forma absolutamente pertinente e
atual, ele afirmava que de nada adiantaria modificar as instituições, sem que antes
modificassem-se os homens que exerceriam os cargos. E por que ele dizia isso?
Bem, a política, tal qual a filosofia
nos ensina, deveria ser a arte de prover o bem estar de toda a coletividade, de
doar-se em prol dos outros, de buscar o justo ( dar a cada um o que é seu por
direito). Entretanto, o que se via na Grécia Antiga, bem como o que vemos hoje,
em todo o mundo, afasta-se completamente desses ensinamentos.
Política é
um termo derivado de POLIS, que nada mais é do que a comunidade, o ajuntamento
de pessoas em um local, onde residem, trabalham e de onde retiram seu sustento.
As cidades atenienses eram assim denominadas, e política era a arte de
administrar, em benefício de todos, o espaço comum da Pólis.
Para
Sócrates, conforme citado por Platão, apenas os homens sábios deveriam exercer
cargos públicos nas Pólis, a fim de que fossem pessoas capazes de compreender o
que se afiguraria melhor para a sociedade, agindo de acordo com o que seria bom
e justo, correto, ético e adequado.
Infelizmente,
os recentes acontecimentos no mundo, as disputas desleais e todas as
barbaridades que se desenrolam todos os dias, na vida pública, sob os nossos
olhos, me permitem dizer, sem medo de errar, que fazer política, hoje, é lidar
com tudo que Sócrates abominava no ser humano: a cobiça, a vaidade, a falta de
escrúpulos, a sede de poder, a ganância, a desonestidade.
Existem
políticos honestos, sem sombra de dúvidas. Mas a grande maioria desses
indivíduos que ingressam na carreira pública, exercendo cargos para os quais
foram eleitos pelo povo, não possui um caráter ilibado, uma superioridade
intelectual, tampouco a noção do que é justo e certo.
O comandante
da legião responsável por defender o feudo de Morgan Freeman, representado por
Clive Owen, a certa altura do filme, diz para seu senhor, criticando a omissão
daquele por tanto tempo: “Se é a injustiça da corrupção que o aborrece, talvez
devesse ter-se compelido a agir, antes que ela chegasse até aqui”.
A atitude
omissa do senhor feudal, que por décadas aceitou a corrupção e desta
participou, permitiu que a situação chegasse a um ponto insustentável.
Os
ensinamentos de Platão foram compilados por Trasilo de Alexandria, teólogo e
filósofo, do Século I D.C, responsável pela preservação e divulgação de toda a
obra de Platão, que, além de haver sido discípulo de Sócrates e professor de
Aristóteles, foi um grande e lúcido escritor, tendo resgatado, por meio de seus
textos,, os ensinamentos de Sócrates, que nada escreveu.
Se o
conjunto de obras de Platão, salvas da extinção por esse teólogo, foi capaz de manter-se
atual, 24 séculos depois, isso nos mostra
que o que o filósofo pregava faz todo o sentido, e que é preciso resgatar a
civilização, por meio desses ensinamentos, os quais precisamos conhecer e
internalizar.
Não podemos
aceitar tudo que escutamos, ou agir conforme a maioria, por medo de desagradar.
Temos nas mãos o fruto da democracia, o voto direto, e devemos escolher homens
honrados para o exercício da função pública .
Em um
momento crucial do filme, o comandante diz a seus soldados: “Vamos honrar a
memória do nosso Mestre, a voz do nosso povo e o espírito da nossa nação”. E
complementa: “Todos os homens nascem com honra. Ela não pode ser tomada. Não
pode ser concedida. E não deve ser perdida”. Aos que perderam sua honra no
intrincado jogo da política, nada. Aos sábios e éticos,, tudo.
Erika Figueiredo para o Tribuna Diária
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