PESSIMISTAS
sobre o despotismo da liberdade
Sir Roger Scruton, filósofo britânico falecido em 12 de
janeiro de 2020, não viveu para testemunhar o manicômio em que o mundo se
transformou (à exceção da China, curiosamente), por conta da atual pandemia de
covid-19.
Digo isso
porque, em seu livro “As Vantagens do Pessimismo”, o autor trata justamente do
que está se passando bem à frente dos nossos olhos. Logo no prefácio, nesse
livro escrito em 1985, mas atualíssimo, ele diz o seguinte:
“Não tenho
dúvida de que São Paulo estava certo ao recomendar a fé, a esperança e o amor
(ágape) como as virtudes que ordenam a vida para o bem maior. Entretanto,
também não tenho dúvida de que a esperança, separada da fé e não temperada pela
evidência da história, é um ativo perigoso, que ameaça não só aqueles que a abraçam,
mas todos aqueles que estão ao alcance de suas ilusões”.
Endosso
completamente as palavras de Sir Roger. Vejo o mundo caminhar em direção ao
abismo, e as pessoas rindo e não acreditando, chamando aqueles que as alertam
de sensacionalistas, negacionistas, fascistas, como se o amanhã não fosse,
absoluta e irremediavelmente, impactar suas vidas.
Percebo que
a História da Humanidade, mesmo alternando períodos de calmaria e guerra, ordem
e caos, não serviu de exemplo para os homens, que ao contrário dos animais, em
sua maioria não farejam o perigo.
Situações
muito alarmantes de perda de liberdades, perseguições políticas, excessos
jurídicos, avanço do comunismo, concentração de poder, vêm se desenrolando
mundo afora, sem que as pessoas parem para refletir sobre o que está
acontecendo.
A série da Amazon Prime, uma distopia chamada The Man in The High Castle, baseada em um livro homônimo de Philip K Dick, como bem lembrado e recomendado pela queridíssima Cláudia Piovezan, trata disso: a trama se passa nos Estados Unidos, devastados pela Segunda Guerra Mundial, que foi vencida por Alemanha e Japão. O país foi dividido entre essas duas potências, os cidadãos vivem sem liberdade e eternamente atemorizados por seu novo comando, que a todos vigia e pune com mãos de ferro.
Coincidência?
Em tempos tão sombrios a nível mundial, é super plausível. A China avança sobre
os países subdesenvolvidos, oferecendo-lhes dinheiro em troca de subserviência.
Seu líder, o ditador Xi Jinping, já anunciou que dominará o mundo, muito em
breve. Lembremo-nos das palavras repetidas pelo prof Olavo de Carvalho: não há
nada que esteja no mundo, que já não tenha sido abordado na literatura.
Por onde passa, o presidente chinês
deixa seu carimbo: confisca liberdades, autonomia e independência. Mas e os
cidadãos? Estes vivem para servir ao Estado, que com a mesma mão que dá, tira
sem nenhum escrúpulo, e castiga com severidade (vide os recém descobertos
campos de reeducação, criados para acautelarem chineses e sul coreanos, que se
insurjam contra o regime chinês). Essa é, afinal, a cartilha do comunismo, que
avança a passos largos pelo mundo.
E as nações democráticas e seus
governantes, que já viveram sob o terror do nazismo, do fascismo e do comunismo
na primeira metade do século XX, e viram o que esses sistemas de governo podem
gerar, e os massacres que destes podem decorrer, estão tomando quais
providências?
Ah, bem... várias nações endividadas
estão aceitando ajuda financeira do governo chinês, a vacina contra covid-19,
vendida para boa parte do mundo tomar, é chinesa, o futuro presidente americano
é a favor do estreitamento das relações comerciais e diplomáticas entre EUA e China,
a maior parte das grandes empresas do mundo tem participação chinesa...
E assim essa superpotência avança, sem
obstáculos, rumo a sua meta, e livre de maiores embaraços. Ronald Reagan dizia
que a liberdade não é algo genético, que se transmita pelo sangue. É preciso
protege-la, defende-la, lutar por ela, ou ela será perdida, entre uma geração e
outra.
Isso está acontecendo. A civilização
perdeu uma grande oportunidade de aprender a lição, após as duas grandes
guerras do século XX. Não foi ensinado, às gerações posteriores, o que é o
comunismo, e quais são suas dramáticas consequências para o mundo. Ao contrário,
os artistas, a mídia e os acadêmicos flertaram perigosamente com a doutrina
marxista, disseminando-a livremente por aí.
Como o livro de Sir Roger alerta,
desde os anos oitenta do século passado, ao falar de Rousseau e de sua utópica
idéia de liberdade e harmonia universais: “E seus seguidores acreditavam que
essa liberdade, uma vez obtida, se expressaria na felicidade e na irmandade da
humanidade, e não na ‘guerra de “todos contra todos’ que Hobbes tinha descrito
como o verdadeiro ‘estado de natureza’’’. E prossegue:
“(...). Pouco tempo depois,
Robespierre estabeleceria aquilo que chamou de ‘o despotismo da liberdade’,
cortando qualquer cabeça que tivesse algum problema com isso. A contagem final
dos mortos, de acordo com o historiador francês René Sédillot, foi de dois
milhões, com a Europa nesse ínterim mergulhada em guerras continentais que
destruiriam as esperanças das pessoas mais racionais” (As Vantagens do
Pessimismo, páginas 43/44).
A civilização se esqueceu dos
ensinamentos mais básicos sobre tempos de paz – o de que a estes, sempre se
seguem tempos de guerra. Isso é cíclico. É bíblico. É histórico. O otimismo humano
jamais deveria suplantar a capacidade de enxergar a realidade.
Estamos dançando, perigosamente, à
beira do precipício. Quando o pior acontecer, não vai adiantar soltar pombas
brancas e cantar Imagine, de John Lennon. Muitas das vezes, um pouco de
pessimismo é o remédio amargo que precisamos tomar. Este, sim, nos manterá com os dois pés firmes no chão.
“Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade, porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas “.Friedrich Nietzsche
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