ESTATÍSTICA E IDEOLOGIA
Entendendo o Atlas da violência urbana, desinformação. (parte i).
“Se você quer inspirar
confiança, forneça muitas estatísticas. Não importa se elas estão certas, ou
mesmo façam sentido, contanto que sejam muitas.” Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson,
criador de Alice no País das Maravilhas.
O ano de 2020 foi recheado de
novidades e fatos, impactantes e quase diuturnos na verdadeira guerra cultural
vivida no Brasil e no mundo, distraindo-me a ponto de pouco ou quase nada
escrever sobre um tema, que tenho predileção em abordar a “ideologia utilizando
a estatística para gerar a desinformação”.
A mentira estatística é uma das armas mais
utilizadas na guerra cultural gerada pela esquerda embasada em Gramsci e na
escola de Frankfurt, abandonada a dicotomia “proletariado-burguesia”, mas adotando,
no lugar, a divisão da sociedade em raça, homem x mulher, gênero, entrechoque
entre criminoso/vítima da sociedade e o policial/demoníaco (violento por
natureza) etc. Por conta disso não podemos abandonar o tema e precisamos
retornar, volta e meia, para demonstrar a ideológica utilização da estatística
pela intelligentsia com o fito de
gerar desinformação.
Por conta disso, a pequena releitura (sem
ideologização da estatística) do Atlas da Segurança Pública de 2019[1], cujos dados são oficiais,
verdadeiros, retirados do SIM/MS[2] e referentes ao ano de
2017, porém, interpretados – como já apontei - com evidente viés esquerdista[3]. Os números apontam a prática de 65.602
homicídios no ano (computadas as intervenções ‘legais’ – como diz o nome não seriam
crimes, a princípio), gerando o índice de 31,6/100mil habitantes, colocando o
Brasil entre os países que mais matam no mundo, seja em números absolutos ou
relativos.
Normalmente, enfoco a análise sobre violência
policial, muito pouco falada no referido atlas, ou a questão do desarmamento,
pois embora aponte que 72,4% dos homicídios foram cometidos com armas de fogo (portadas
por bandidos), teimosamente, insistem em dizer que o Estatuto do Desarmamento
ajudou a poupar muitas vidas, não abordarei o tema, pois recentemente escrevi
mostrando a absurdidade da assertiva, leiam “É Verdadi Ece Bilete!..”[4]
Vamos aos temas de hoje. Após a exploração
enviesada dos dados estatísticos, a conclusão do trabalho aponta: “Vimos ainda
a urgência de se enfrentar o legado da escravidão: somos um país extremamente
desigual [...] racialmente. [...] verificamos também substancial aumento de
casos de letalidade intencional, motivados por feminicídio e por homofobia,
dois temas que têm que ter um tratamento particular, não apenas por parte do
aparelho de segurança pública estrito senso [...]”
A leitura dessas frases, alijadas de uma análise
coerente e, ao contrário, embasada em exame dos dados com o viés ideológico da
esquerda, levará qualquer leitor mais crédulo a imaginar: “bah, no Brasil estão
praticando o extermínio (verdadeiro genocídio) de ‘negros’, mulheres e
homossexuais”!..
Nada mais enganoso e não podemos olvidar o
aviso de Bernardo Guimarães Ribeiro: “A afirmação corriqueira de que uma
mentira muitas vezes repetida torna-se verdade não é sofisma. Estudos de
neurociência recentes descobriram que verdade
e familiaridade são pouco
distinguidas em nosso cérebro”[5].
Importante grifar, não tolero homicídio
(passei 25 anos no Tribunal do Júri, condenando homicidas sem importar a cor,
raça, sexo ou preferência sexual da vítima), dediquei minha carreira a ser defensor da vida e para mim todas as vidas importam desde o ventre materno,
porém, irrito-me quando vejo o tipo de aproveitamento ideológico que tenta
jogar ‘irmão contra irmão’ na busca de, ali na frente, ganhar votos ou poder.
Segundo o Atlas no ano de 2017, foram mortas
4.936 mulheres, índice de 4,7/100mil habitantes (o número de mulheres no Brasil
supera o de homens)[6].
Detalhe, não há como discernir, pois os dados são incompletos, o que exatamente
foi “feminicídio” ou outra razão, p. ex., muitas mulheres, hoje, são exploradas
pelo tráfico de drogas e acabam morrendo na guerra das Orcrins e inúmeros
outros motivos possíveis.
Quanto ao grupo LGBTI+, o trabalho aponta a
ocorrência, em 2017, de 193 homicídios e, mais uma vez, sem possibilidade de
comprovar ou esclarecer quantos são decorrentes de “homofobia” ou outras causas
(nos citados 25 anos de Júri, realizei 02 plenários, cujas vítimas eram gays,
ambos casos de briga de casal, ciúmes e não homofobia). O Atlas aponta não
serem boas as fontes de dados e que “uma luz no apagão estatístico seria o GGB
(Grupo Gay da Bahia) que há 25 anos tabula as mortes de homossexuais”, no
entanto, tais dados não são confiáveis, basta olhar o site do movimento para ver que incluem tudo: acidentes, suicídios
na conta da homotransfobia.
Como visto, ocorreram 4.936 + 193 = 5.129
lamentáveis homicídios - torço para a descoberta e a condenação exemplar de
cada autor -, mas vejam, isso aconteceu em um universo de 65.602 mortes, ou
seja, somados não chegam a 10%, porém os ‘especialistas’ insinuam a ocorrência
de um genocídio de mulheres e homossexuais no Brasil. Seria mais viável na
situação falar em um genocídio de homens héteros de qualquer cor, pois foram 60.473
homicídios.
Quanto à violência contra negros (o estudo
utiliza a terminologia do IBGE negros
= pretos + pardos; e não negros =
brancos + amarelos + indígenas), segundo os “especialistas”: “No Atlas da
Violência 2019, verificamos a continuidade do processo de aprofundamento da
desigualdade racial nos indicadores de violência letal no Brasil”, pois, de
acordo com os dados, estariam morrendo mais ‘negros’ do que ‘não negros’,
embora reconheçam que, analisada a ‘década’, existem vários Estados onde a
tendência é contrária.
Segundo a análise dos “especialistas”, a
tendência de mais mortes de ‘negros’ seria alavancada por cinco Estados: RN
(87,0/100mil); CE (75,6); PE (73,2); SE (68,8); e AL (67,9).
Para chegar à conclusão das ‘entrelinhas’,
acerca de uma perseguição racial no Brasil, onde propositalmente mais ‘negros’
são mortos, necessário seriam informações sobre
os porquês, os motivos das mortes (foram por racismo ou por outras causas),
o banco de dados utilizado não contém esses informes. O SIM/MS anota o óbito e a
causa (tiro, facada etc..), mas não informa o motivo, portanto, qualquer
conclusão a respeito é mera suposição, sem embasamento empírico.
Além disso, esqueceram, de ponderar na análise,
uma pequena informação (fácil de ser encontrada)[7], pois consoante o IBGE
aumentou o número de ‘negros’ (pretos+pardos), declarados
em relação aos ‘não negros’ (brancos+amarelos+indígenas) no Brasil. Já haviam
ultrapassado por volta de 2010/2011 e de lá para cá cresce a cada ano. Pode,
inclusive, ser maior, pois o IBGE não faz tribunal racial, o levantamento é
feito com base na “declaração”, ou seja, por variadas razões pode haver quem
ainda não se declare desta ou daquela forma.
Outros dados olvidados, os Estados que
alavancariam o número dos homicídios de ‘negros’, não por acaso, estão entre os
que possuem maior número de tal população.
Acerca do tema – divisão da população entre ‘negros’ e ‘não negros’ por
Estado - não achei levantamento atual, mas, observem o quadro retratando o ano
de 2010, didaticamente apresentado no Wikipédia[8]: RN, 58% da população é
‘negra’; CE, 66,9%; PE, 61,9%; SE, 70,7% e AL, 73,5%. Todos Estados na região
nordeste. O quadro seguinte, na mesma matéria, anota possuir a região 69,2% de ‘negros’, ou seja, seria estranho e motivo
de preocupação se estivessem sendo assassinados mais ‘não negros’ no Nordeste,
aí seria de cogitar alguma espécie de extermínio racial.
Ao fim e ao cabo, analisados os dados corretamente,
e não com a distorção ideológica dos ‘especialistas’, é possível afirmar
inexistir perseguição no Brasil ao negros, mulheres e ao grupo LGBTI+. O que
existe no Brasil é uma matança de 65.602 Brasileiros
e que o poder público, pouco ou quase nada faz para combater, por falta, na
maior parte do tempo, de interesse político e do enraizamento nos alicerces do
sistema repressivo do ‘garantismo’ e da bandidolatria, gerando a impunidade,
cujos efeitos são deletérios, pois o crime passa
a valer a pena...
“Quando
o orador [...] aponta a presença de cento e poucos homossexuais entre 50 mil
vítimas de homicídios como prova de que há uma pandemia de violência antigay no
Brasil, é evidente que o seu senso natural das proporções foi substituído pelo
hiperbolismo retórico do discurso grupal que, no teatro da sua mente, vale como
reação genuína à experiência direta.” Olavo de Carvalho. Os Histéricos no
Poder, artigo publicado no Diário do Comércio em 12/12/2012..
Deus tenha piedade de nós!..
Silvio
Miranda Munhoz
cronista da Tribuna Diária, Presidente do MP
pró-sociedade e membro do MCI (movimento contra a impunidade). As ideias
contidas no artigo expressa, única e exclusivamente, o pensamento do autor.
Ps: semana que vem analisarei, com vocês, o Atlas da Violência 2
[1]https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjk0fSB8NDuAhWsQzABHWCfDowQFjACegQIAhAC&url=https%3A%2F%2Fwww.ipea.gov.br%2Fportal%2Findex.php%3Foption%3Dcom_content%26view%3Darticle%26id%3D34784&usg=AOvVaw3sc-AQLyC0FV2pePhARZT_
[5] In Nadando contra a corrente. Ed. Armada, págs. 115/116. No texto
complementa o autor; “uma mentira grotesca, massificada, gera em nosso
subconsciente a sensação de familiaridade pela repetição, mimetizando a
verdade. O Nobel em Economia Daniel Kahneman explica o fenômeno em sua obra Rápido e devagar, duas formas de pensar”.
[7]https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjyktfljrruAhUFH7kGHUNlCj8QFjANegQIEhAC&url=https%3A%2F%2Fagenciadenoticias.ibge.gov.br%2Fagencia-noticias%2F2012-agencia-de-noticias%2Fnoticias%2F18282-populacao-chega-a-205-5-milhoes-com-menos-brancos-e-mais-pardos-e-pretos&usg=AOvVaw3oPSKY9iQj4bAZHfNXdzV_
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